segunda-feira, 25 de novembro de 2013

CURSOS & OFICINAS: ARTISTA EDUCADORA DE ARTES VISUAIS DO PIA

-ARTISTA EDUCADORA DE ARTES VISUAIS
Compartilho abaixo minhas experiencias enquanto artista educadora do PIA-  Programa de Iniciação Artística DA Secretaria da Cultura da Cidade de São Paulo entre: 01/04/2013 à 30/11/2013 no CEU Cantos do Amanhecer


No mês de abril, iniciei o trabalho como artista educadora pela primeira vez no Programa de Iniciação Artística. Um trabalho diferente, de todos que havia desenvolvido com arte educação, com o olhar voltado para iniciação artística, através de encontros interdisciplinares.
As diferentes linguagens da arte oferecem as crianças e adolescentes oportunidades únicas para compreenderem e criarem as suas identidades pessoais, estimulando os estudos interdisciplinares, a tomada de decisões participativas, além de motiva-los para uma aprendizagem ativa, criativa e questionadora.  

"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria 
sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes". (Rubem Alves)


No PIA, cada encontro se torna importante e uma referencia para o próximo, pensando nos anseios do grupo por experimentar diferentes formas artísticas. No atual contexto que vivemos, na sociedade que prega pelo imediatismo de tudo,  vejo como uma grande tarefa, fazer com que as crianças e adolescentes, possam saborear cada momento, sem tanta pressa de chegar ao final, sentir bem o sabor de cada experimento que fazemos, e perceber que o mais importante ao final não é o resultado e sim o processo que se percorre para chegar até ele, e que proporciona amadurecimento em todos os sentidos. 


Intervenção no Muro do CEU Cantos do Amanhecer com participação das crianças, adolescentes e pais:


  

 Educação das sensibilidades...
 “... A educação se divide em duas partes: educação das habilidades e educação das sensibilidades. Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver...”
                                                                Rubem Alves

Nos tempos atuais de alta tecnologia há pouco espaço para brincar ao ar livre, muita violência e intolerância. As citações de Rubem Alves são sempre muito inspiradoras, e me fazem refletir muito sobre o trabalho que desenvolvi enquanto artista educadora no PIA. Cada vez mais, sinto que somos artistas educadores com a missão de despertar esta educação das sensibilidades, nas crianças e adolescentes com quem trabalhamos. 
Hoje em dia, com o excesso de informações e ao mesmo tempo falta de formação, tudo é vivido com muita velocidade e pouca qualidade. O conhecimento, muitas vezes é tratado como um produto. O tempo, que envolve o absorver, memorizar e sentir, é algo que não pode ser abreviado e vivido de forma tão mecânica. Tudo isto gera uma grande carência, por que a sociedade cada vez mais se molda, para um caminho individualista e competitivo, onde as crianças desde cedo são introduzidas. 
                   
Vejo nos encontros do PIA, um refugio destes padrões, onde trabalhamos muito o “despertar” das sensações nas crianças. Uma integração de atividades e que multiplicam o aprender em si, por que é um espaço de experimentação e inicialização. Não há uma cobrança e exigência sobre um conhecimento especifico. De certa forma, não há certo ou errado, queremos fazer com eles não tenham medo de experimentar e interagir com a arte das suas mais diversas possibilidades: seja através da música, da dança, da pintura, do teatro... E desta forma, exercitar a sensibilidade e o olhar. 

Encontros com a turma de 5 a 7 anos de 5° feira do PIA do CEU Cantos do Amanhecer 



Exercitando este olhar da sensibilidade, desenvolvemos muitos trabalhos com o corpo, a poesia e a arte integradas. Com os adolescentes, realizamos estudos relacionando seus movimentos à suas silhuetas, que foram inspiração para instalações. Explorando o espaço do CEU Cantos do Amanhecer, crianças e pais fizeram suas silhuetas coloridas em um muro, que certamente, nunca mais será o mesmo. Pois agora, esta cheio de significados, de vida, de sensibilidade. 

 Encontros com a turma de 8 a 10 anos de 5° feira do PIA do CEU Cantos do Amanhecer 




A turma de 8 a 10 anos, sempre ansiosa por fazer teatro, mas ao mesmo tempo envolvida no “brincar” a todo o momento, foi uma turma que me proporcionou grande aprendizado e me surpreendeu muito. Trabalhando a atenção com o grupo, introduzimos um jogo de adivinhações a partir da fotografia, onde começaram utilizando apenas o corpo como suporte para criar uma imagem, e pouco a pouco foram criando situações mais elaboradas, introduzindo o movimento, depois o cenário e por fim os figurinos. Que orgulho destes pequenos!





Criação de figurinos inspirados no Cangaço - desde o desenho a produção de peças
  





Construção de cenas, criação de cenários e fantoches.



Encontros com turmas de 11 a 14 anos ( 4° feira manha e tarde) do 
PIA do CEU Cantos do Amanhecer




Desenvolvendo uma relação maior com o espaço que estamos, buscamos explorar também outros lugares do CEU. Desta forma, pensando em uma mensagem que gostaríamos de deixar para que alguém no futuro pudesse ler, cada criança foi convidada a desenvolver sua própria mensagem, seja em texto ou gravura. Com estas mensagens prontas, partimos para a exploração do espaço, montando uma grande instalação com estas mensagens dentro de garrafas em uma das piscinas do CEU.



Esta instalação possibilitou uma troca de experiências, pois as crianças leram mensagens e histórias feitas por crianças de outras turmas que não conheciam. As garrafas chamaram a atenção dentro da piscina, despertando grande curiosidade, mas achamos que seria interessante leva-las também para outro lugar aonde pudessem ter mais acesso. Desta forma, em outro encontro, estando novamente com as garrafas, cada criança foi convidada a pintar e customizar sua garrafa, para uma nova instalação.   Explorando a leitura e a poesia como inspiração, levamos as garrafas coloridas, cheias de novas mensagens e rimas para a biblioteca.











Trabalhos de criação de máscaras, refletindo o tema das diferenças e preconceitos, o grupo criou novas opções de máscaras, assumindo "corpos diferentes" para esses personagens, o que a princípio gera um estranhamento, já que todos são diferentes, mas será que na vida real não é assim também, afinal ninguém é igual a ninguém, nem mesmo, irmãos gêmeos... As diferenças promovem crescimento. 

E para finalizar esta memória a este trabalho enriquecedor que foi a vivência como artista educadora de artes visuais do PIA este ano , fica uma pequena citação, com grande mensagem:

 “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as 
possibilidades  para a sua própria produção ou a sua construção.” Paulo Freire